sexta-feira, 12 de agosto de 2011

Governo planeja congelar gastos de 2012

 

Capa Folha de S.Paulo - Edição São Paulo
Diante da crise, ministra do Planejamento afirma que não se deve esperar Orçamento frouxo para o próximo ano

Ações prioritárias, como plano de combate à pobreza, PAC e bolsas de estudo para jovens, porém, serão poupadas

ANA FLOR E GUSTAVO PATU – FOLHA SP

DE BRASÍLIA
O governo Dilma Rousseff decidiu promover um congelamento de despesas no projeto de Orçamento para 2012, em uma orientação reforçada pelo temor dos efeitos da crise econômica internacional.


Na proposta de lei orçamentária, a ser enviada ao Congresso até o fim do mês, a maior parte dos gastos não obrigatórios do Poder Executivo será limitada aos montantes em vigor neste ano. Em entrevista à Folha, a ministra Miriam Belchior (Planejamento) disse que a programação para o próximo ano será “sóbria” e não se deve esperar um Orçamento mais “frouxo”. “O limite inicial [de despesas federais para 2012] será o mesmo.”


A ministra avaliou que o projeto será afetado pela necessidade de lidar com a turbulência econômica, mas teve a preocupação de apontar a diferença entre o Brasil e os países que têm crise fiscal.


“Fizemos a lição de casa antes”, disse, citando o ajuste anunciado no início do ano, quando foram bloqueados ou cortados R$ 50 bilhões em gastos previstos.


As despesas não obrigatórias são uma parcela minoritária do Orçamento -em torno de 25% do total, pela classificação do Planejamento.


Elas incluem setores que não necessariamente estarão sujeitos à restrição de despesas. Ações consideradas prioritárias, como o plano de combate à pobreza extrema, o PAC e as iniciativas como bolsas de estudo para jovens no exterior, serão poupadas.


Não há, entretanto, previsão de reajuste salarial para o funcionalismo público.


No segundo governo Lula, os montantes destinados a esses programas cresceram continuamente. Em tese, teria que haver um aumento de cerca de R$ 8 bilhões em 2012 para manter o patamar deste ano corrigido pela inflação.
RESPOSTA À CRISE


Em 2009, quando enfrentou a onda recessiva anterior, a administração petista optou por reduzir tributos e elevar despesas para estimular o consumo e o investimento.


Agora, no entanto, os investidores domésticos e internacionais estão mais preocupados com a solidez das contas do governo.


Para o próximo ano já está contratada uma forte elevação de despesas obrigatórias com previdência, assistência social e seguro-desemprego.


Isso ocorre por conta do reajuste de 7,5% acima da inflação que já está programado para o salário mínimo.


Também haverá perda parcial de receita com medidas adotadas neste ano para estimular o consumo, a indústria e exportações.


Apesar de estar preocupada com os gastos, a equipe econômica pediu à presidente Dilma que vete ao menos dois pontos da lei que define as regras do Orçamento de 2012. A Folha apurou que um deles é a fixação de meta para deficit em contas públicas.


O outro é a fixação de uma regra que impede que as despesas com a máquina pública cresçam mais que o investimento. Eles foram inseridos pela oposição no texto final do projeto, aprovado pelo Congresso Nacional. Colaborou LORENNA RODRIGUES, de Brasília

Brasil sofrerá pouco com crise externa

Para economistas, país crescerá menos, mas cenário é menos grave do que em 2008

MARIANA SCHREIBER

DE SÃO PAULO
A piora do cenário econômico na Europa e nos Estados Unidos vai mexer com a economia brasileira, mas não na mesma magnitude que a crise financeira de 2008. Essa é a percepção da maioria dos economistas ouvidos pela
Folha
.


Alguns já começaram a rever projeções para o desempenho do PIB (Produto Interno Bruto) brasileiro. Se alguns meses atrás as previsões ficavam em torno de 4,5%, eles esperam agora crescimento abaixo de 4% para este e o próximo ano.


Uma recessão como a de 2009, no entanto, é considerada improvável.


“Essa crise não deve ter a gravidade de 2008. O impacto aqui tende a ser relativamente pequeno”, afirma Maílson da Nóbrega, sócio da consultoria Tendências.


Nóbrega aponta o aumento de cerca de 13% do salário mínimo no ano que vem como um dos fatores que manterão a economia aquecida.


A necessidade de investimentos para a exploração do pré-sal e para a realização da Copa (2014) e da Olimpíada (2016) também devem limitar o impacto da crise no país.


“Não consigo ver o forte ciclo atual de investimentos no Brasil ser afetado substantivamente. Se a coisa [lá fora] for um pouco mais feia, eles vão crescer menos, mas seguirão se destacando num mundo onde há uma penúria de oportunidades”, avalia o economista-chefe do Bradesco, Octavio de Barros.


Para os especialistas, o crescimento menor dos países ricos não causará grandes estragos no mercado de trabalho brasileiro e nos setores de comércio e serviços. Isso porque, dizem, o consumo deve se manter aquecido.


As exportações de commodities (insumos básicos) também não devem ser muito afetadas, pois não é esperado um grande recuo de preços.


Na opinião do economista-chefe do banco ABC Brasil, Luis Otavio Leal, o setor que será mais afetado é a já enfraquecida indústria.


Como os juros ficarão muito baixos nos EUA e na Europa para estimular essas economias, investidores continuarão trazendo recursos para o Brasil, em busca de rentabilidade. Isso manterá o dólar fraco, projetam.


Com o real valorizado e a demanda externa por manufaturados ainda mais fraca, a indústria continuará com dificuldades para exportar e competir com os importados.


Na avaliação do Itaú, a repetição de uma crise como a de 2008 é improvável, mas seu risco aumentou nos últimos dias. O banco estima que se isso acontecer o Brasil para de crescer até 2012.


Nesse caso, o Itaú considera que o governo deve reagir de forma diferente do que em 2008. Ao invés de aumentar os gastos públicos, deve aproveitar a “oportunidade” para reduzir mais os juros e trazer a taxa para perto de patamares internacionais.

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